o método cientifico explicado

Para começar a explorar um pouco mais por aqui os temas sobre literacia científica hoje vou explicar-vos um pouco mais sobre o método científico.

Antes de começar queria dizer que a ciência não é toda igual. As coisas são muito mais complexas do que “um estudo diz”: é preciso olharmos para a maneira como o estudo foi feito, nos estudos anteriores em que se baseia,  como foi feita a análise dos dados, qual foi a amostra em que foi feito, se existem interesses envolvidos, etc.

E mais importante, a ciência não se faz toda num estudo (isto é algo importante tanto para quem consume ciência, como para quem a faz, que por vezes se entusiasma em excesso com os resultados de um único estudo). Um estudo é apenas uma gota num grande oceano que é ciência. Mas porque temos que perceber as gotas para perceber de que é feito o oceano, hoje vou explicar-vos um pouco mais sobre o método científico.

Antes de começar a mergulhar em tipos mais específicos de estudos e que tipo de conclusões  podemos tirar dos mesmos (que fica para outro post). Vamos voltar para a aula de História. Sim, leram bem: História, a ciência também tem a sua História. E podemos aprender muito com ela. No 8º ano, uma professora de História fez-me escrever no quadro todos os passos do método indutivo de Francis Bacon que viria a dar origem ao método científico (e até hoje não me esqueci). E é precisamente deste método que vos venho falar hoje.

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Vamos começar pelo básico: o objetivo de uma experiência é testar uma hipótese. Se fazemos uma experiência, qualquer que ela seja (de psicologia, química, ou engenharia) e não temos uma hipótese a priori, torna-se muito limitado o que podemos extrair da mesma..

Então como fazemos para formular hipóteses: lemos, ou nos tempos de Bacon, observaríamos o mundo à nossa volta, teríamos uma hipótese sobre como o mundo funciona, e  depois iríamos testá-la. Depois de fazer a nossa experiência poderíamos confirmar a nossa hipótese ou rejeitar a nossa hipótese (não estou necessariamente a falar de estatística aqui).

Por exemplo, tínhamos uma hipótese de que a água e o azeite não se misturam. O próximo passo seria desenhar uma experiência para testar se a água e o óleo se misturam ou não. Pegávamos na água e no azeite e misturávamos. Se experimentarmos fazer isto, sabemos que eles não se misturam, então a nossa hipótese seria confirmada.

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Será que isto quer dizer que a água e o azeite não se misturam em nenhumas condições? Não. Agora teríamos que fazer a experiência várias vezes com pequenas variações, (diferentes temperaturas, diferentes tipos de água, diferentes tipos de azeite) e ver se a nossa hipótese se confirmava nas várias condições. É importante que testássemos apenas uma pequena variação de cada vez, por exemplo, fazer a experiência com a água a várias temperaturas com exactamente o mesmo tipo de água, o mesmo tipo de azeite, no mesmo recipiente, etc. Isto porque se tivermos, por exemplo, dois tipos de azeite diferentes a temperaturas diferentes, não sabemos se o efeito é por causa do tipo de azeite, das temperaturas ou de ambos.

Vamos a outro exemplo, vou-vos pedir que vejam o vídeo abaixo e contem o número de vezes que a bola é passada entre os jogadores.

Não vos disse a hipótese de propósito. Isto é comum em alguns estudos em psicologia, medicina e não só. Não dizemos aos participantes as nossas hipóteses no início do estudo, porque isso poderia fazer com que as pessoas respondessem de forma a confirmar ou contrariar as nossas hipóteses. Neste caso a hipótese é que as pessoas que têm que contar o número de vezes que a bola é passada, não vêm o urso a passar (podem ir confirmar).

Agora, vocês iam mostrar isto a vários elementos da vossa família e, como esperado, eles não viam o urso. Isso é suficiente para afirmar que descobrimos a cegueira desatencional – o fenómeno que ocorre quando estamos focados numa tarefa, e não nos apercebemos de mais nada. Não. Seria necessário fazer um estudo com mais pessoas, de preferência que não conhecessemos, num ambiente mais controlado (como um laboratório), onde dessemos exatamente as mesmas instruções a todos. Ainda assim isso não seria suficiente. O nosso estudo iria ser refeito (ou replicado) por outros cientistas, que confirmariam ou não os nossos resultados, e tentariam entender o porquê. E só depois de muitas pessoas terem feito o mesmo estudo, poderíamos combinar os resultados dos vários estudos  matematicamente (naquilo a que se chama uma meta-análise) e só depois disso tudo iríamos estar um pouco mais próximos de perceber se realmente o efeito existe ou não (este é um estudo em psicologia, se quiserem compreender melhor o que estuda a psicologia leiam este artigo).

Este processo todo pode levar anos. A ciência não se constrói com um estudo, nem num dia. São anos de trabalho, muitas vezes nas direções erradas para tentar compreender um pouco melhor como o mundo funciona. O processo científica não é só fazer os estudos, é também comunicá-los à comunidade científica, ler e conhecer o trabalho que os outros fazem, organizar e sistematizar as descobertas que são feitas, entre outras coisas. Por isso a próxima vez que virem uma notícia no jornal sobre “estudo científico diz” ou “cientistas descobrem” pensem duas vezes.

Se tiverem alguma dúvida sobre o método científico, ou alguma coisa que queiram acrescentar deixem nos comentários.

Por fim se tiverem algum tema que gostassem que abordasse, deixem nos comentários.

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